Alternativas Saudáveis: Receitas de Saúde & Bem-Estar

Entrevista com Cátia Raposo

O Alternativas Saudáveis entrevista em sua primeira edição a fisioterapeuta, acupunturista, professora de acupuntura e instrutora de Qi Gong Cátia Raposo.

Professora Cátia Raposo, acupunturista

A Professora Cátia Raposo se formou no IARJ em 1994, onde lecionou durante algum tempo. Mais tarde conheceu o Prof. Sohaku, fundador da Academia Brasileira de Artes e Ciência Oriental (ABACO), hoje considerada a maior escola de acupuntura do país, e onde exerceu a função de coordenadora pedagógica nos últimos treze anos.

Paralelamente, trabalhou em projetos de implementação da acupuntura em grandes centros médicos, como o Hospital Municipal Miguel Couto, a ABBR e o Instituto Oscar Clark.

Alternativas Saudáveis:

O que fez você se tornar uma acupunturista?

Profª Cátia Raposo:

Esse interesse começou muito cedo. Fui fazer Tai Chi Chuan quando tinha 17 anos. O professor começou a falar da filosofia taoísta, que é o alicerce da Medicina Chinesa, e aí me encantei. Decidi, naquela ocasião, que iria estudar Medicina Chinesa. Como tinha de ser da área da saúde, escolhi estudar fisioterapia, porque o curso ensina anatomia, fisiologia e patologia. Tinha tudo a ver.

Alternativas Saudáveis:

A Medicina Chinesa é um sistema milenar com uma base filosófica sólida e poética, que enxerga o homem por inteiro. Qual é a proposta dessa medicina?

Profª Cátia Raposo:

A proposta é aproximar o homem da natureza e criar uma harmonia com isso. Sim, porque o homem está subordinado às leis da natureza. É preciso respeitar os ciclos sazonais, comer de acordo com as estações, é preciso dormir à noite, acordar cedo. Nos dias de hoje existe a tendência à inversão de valores menosprezando-se o que é natural. As leis maiores não são respeitadas.

Alternativas Saudáveis:

É verdade, precisamos mesmo entrar mais em contato conosco e com o que está acontecendo ao nosso redor, para facilitar a nossa cura, ou simplesmente para nos sentirmos melhor. Mas, na medicina ocidental, por exemplo, o paciente é passivo, ou seja, ele espera que alguém ou algo o cure. Essa atitude do paciente em relação à sua própria cura é diferente no sistema médico oriental?

Profª Cátia Raposo:

É, sim. No sistema médico oriental o paciente é ativo, ou seja, ele aumenta a percepção do que está acontecendo com ele. O paciente é estimulado a recuperar a capacidade do seu organismo de se queixar diante das situações adversas. A pessoa adquire a capacidade de reagir em vários níveis, sente o que o seu corpo precisa. Às vezes, o nosso corpo está precisando de água, às vezes, de vitamina C, às vezes de descanso. Tem gente que não entende que precisa dormir. A acupuntura estimula essa recuperação dos padrões de adaptação. Com a acupuntura, o nosso corpo recupera as energias de forma natural.

Alternativas Saudáveis:

A Medicina Chinesa entende que existe uma relação entre as emoções e os diferentes órgãos do nosso corpo. É verdade, por exemplo, que a raiva afeta o fígado e vice-versa? Como a senhora explicaria essa relação da emoção com os diferentes órgãos?

Profª Cátia Raposo:

A acupuntura tem como base uma organização cosmológica, onde a relação dos cinco elementos é presente em tudo na natureza, incluindo o ser humano.

A raiva, o fígado, os músculos, os tendões, os ligamentos pertencem ao movimento da Madeira. Todos têm essa qualidade. É este movimento que nos dá a capacidade de intervir sobre as coisas, de mover os músculos do nosso corpo, assim como de sentir raiva. O órgão no corpo humano que apresenta essa mesma qualidade dinâmica é o fígado, por isso uma coisa está relacionada à outra.

Alternativas Saudáveis:

Então, e o que vem primeiro, a raiva ou o fígado congestionado? Quem instiga quem?

Profª Cátia Raposo:

Uma coisa vai levando à outra. A emoção tem um peso muito grande. Tão importante quanto a emoção é o que a gente herda, ou seja, a nossa constituição, a tendência familiar, é o que a gente traz na nossa bagagem.

A emoção, de uma certa forma, dita o estilo de vida de uma pessoa. Uma coisa muito comum é uma pessoa que tem raiva, que é intolerante, impaciente e irritada, achar no álcool uma forma de relaxar.

Isso acaba se tornando um ciclo vicioso. O padrão emocional cria uma relação com o hábito. A acupuntura atua buscando quebrar esse ciclo, onde a raiva gera uma estagnação que faz a pessoa fazer uso de mais álcool, que vai deixar o fígado cada vez mais estagnado.

A acupuntura atua sobre o fígado, para recuperá-lo, para ajudar a pessoa a reencontrar o equilíbrio de uma forma suave.

Alternativas Saudáveis:

Então, podemos dizer que a acupuntura é capaz de reverter um quadro de alcoolismo?

Profª Cátia Raposo:

A acupuntura pode atuar de forma complementar em qualquer nível. Existe o alcoolismo usual que é comum, é social, em que a pessoa ainda não tem a doença. Mas, mesmo quando a doença existe, a acupuntura pode ajudar aqueles que querem sair desse quadro, com uma abordagem multiprofissional.

Alternativas Saudáveis:

A Medicina Chinesa tem várias aplicações terapêuticas. Como se desdobram essas aplicações?

Profª Cátia Raposo:

As aplicações terapêuticas da Medicina Chinesa partem do mesmo princípio, mas, dependendo do contexto, uma vai ser mais adequada que a outra. Por exemplo, os exercícios (qi gong), assim como as técnicas de manipulação

(shiatsu, tuiná), são muito indicados para a prevenção. Para tratar doenças já instaladas, usa-se a acupuntura e as ervas.

Num grande centro de um país populoso como a China, por exemplo, a farmacopéia (ervas chinesas) acaba imperando, porque são muitos pacientes para poucos terapeutas. Fazer acupuntura em tanta gente assim é muito difícil. Até porque a acupuntura tem de ser feita em série, precisa de repetição. Nesse caso, a pessoa já vai sair dali com um remédio na mão, que vai ajudá-la a recuperar o equilíbrio, como as demais aplicações terapêuticas fariam, só que agindo por caminhos diferentes.

O tuiná é mais que uma massagem, é uma forma de fisioterapia chinesa. Tem manipulação, recuperação das articulações, trabalha a postura, além de muitas manobras com objetivos específicos.

Além disso, a acupuntura se utiliza das ventosas e do moxabustão, esse último feito de artemísia, como ferramentas terapêuticas.

Alternativas Saudáveis:

Segundo a Medicina Chinesa existe uma força vital que permeia tudo o que existe. Esta energia vital, ou Qi, é a própria energia da Vida. Quando saímos de alinhamento com esse fluxo contínuo de energia chamado de Livre Fluxo do Qi, nós adoecemos. Como isso acontece na nossa vida cotidiana?

Profª Cátia Raposo:

A Medicina Chinesa diagnostica padrões fisio-patológicos, que são verdadeiras entidades de desarmonia, por exemplo, a estagnação do Qi. A estagnação do Qi acontece quando o Livre Fluxo do Qi é perdido. E, quando isso acontece, a tendência é estagnar em vários níveis, com gravidades diferentes.

Alternativas Saudáveis:

Entendo… é como se deixássemos de fluir com a Vida. Mas, como isso acontece?

Profª Cátia Raposo:

Há várias maneiras de se analisar isso. Dentro da filosofia, é como a gente comparar uma brisa suave, que é agradável, que mantém a energia circulando, com um vendaval ou um furacão, que é um movimento brusco da natureza.

Os movimentos que ocorrem no macrocosmos (no Universo) ocorrem de forma semelhante no microcosmos (dentro de nós). Uma ação brusca e agressiva faz com que se perca a capacidade de agir assertivamente sobre as coisas. O que essa pessoa faz já não é mais fecundo, e às vezes até destrutivo.

Quando o Livre Fluxo do Qi é afetado, perde-se a suavidade e a capacidade de reconhecer quando se deve ou não intervir sobre uma situação. Isto pode afetar a opinião e as escolhas enfraquecendo a identidade da pessoa, o que pode levar à depressão.

No nível físico, a pessoa pode ter dores de cabeça e no pescoço, pressão alta, problemas digestivos ou menstruais. A perda do Livre Fluxo do Qi é, antes de qualquer coisa, um desequilíbrio do fígado, que é o órgão responsável por manter esta harmonia.

Alternativas Saudáveis:

É incrível essa analogia. Agora, quanto ao conceito de Yin – Yang da filosofia chinesa, o que isso pode nos acrescentar na vida diária?

Profª Cátia Raposo:

Penso que esse assunto é muito vasto. O conceito de Yin – Yang tem a ver com a dualidade, que faz parte dos fenômenos e que afeta o ser humano. O ser humano convive com a dualidade. Não existe luz sem sombra, inverno sem verão, amanhecer sem anoitecer. O Yin – Yang nos ensina que não dá pra excluir nada, que tudo é cíclico e que tudo passa. Precisamos ter paciência com os nossos processos e com a dualidade, “os altos e baixos”.

Alternativas Saudáveis:

Maravilha! Agora outro conceito muito interessante da filosofia chinesa é o de ser “Imortal”. Poderia falar sobre o que é ser “Imortal” de acordo com a filosofia chinesa?

Profª Cátia Raposo:

Essa é uma das passagens mais bonitas da filosofia chinesa dentro de um contexto ainda mais amplo, o Tao, que é a sua base. Para o oriental é muito simples. Ser “Imortal” é estar próximo da natureza. É ter seus canais abertos para trocar com a natureza.

Ser “Imortal” é sentir a brisa. É escutar o barulho do mar, é sentir o movimento dos animais, é ouvir o vôo dos pássaros… é fazer parte do todo. Ser “Imortal” é ser uno. Ser “Imortal” é o verdadeiro sentido da unidade, é se sentir parte de tudo à sua volta.

Ontem fui fazer compras no Hortifruti e percebi que todo mundo estava muito voltado para si, sem tolerância, um jogando o carrinho do outro para o lado… ninguém teve paciência com uma velhinha que andava bem devagar…

Ser “Imortal” é não se sentir separado de nada.

Alternativas Saudáveis:

Então, ser “Imortal” é bem mais simples do que se pensae, o que é melhor, é totalmente possível! Bem, estamos chegando ao final da nossa entrevista. Gostaria de lhe perguntar, Profª Cátia, qual seria a sua definição de saúde e que conselhos gerais poderia nos dar?

Profª Cátia Raposo:

Saúde é muito mais do que não ter doença. Saúde é poder encontrar um eixo interno, é encontrar a paz interna, dentro do olho do furacão e fazer o melhor possível para si próprio, para o outro, é ouvir o outro, por exemplo. Ouvir o outro é fundamental. É se auto-referenciar. Esse negócio de falar sem parar é uma espécie de autismo, é um autocentramento.

Para ter mais saúde, a gente tem de cuidar da nossa alimentação, beber uma quantidade suficiente de água, aprender a respirar, fazer exercício e procurar formas de manter o equilíbrio emocional.

As coisas não estão fáceis, mas para termos saúde precisamos aprender a encontrar um lugar de paz dentro de nós, para fazer o melhor possível.

Alternativas Saudáveis:

Muito obrigada por nos ter concedido essa entrevista.

A Profª Cátia Raposo tem consultório no Jardim Botânico. Se você quiser contatá-la para fazer alguma pergunta e/ou marcar uma consulta, o seu e-mail é:

catiaraposo12 @ gmail.com

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